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sábado, 28 de setembro de 2013

ESFINGE




Sou filha da charneca erma e selvagem.
Os giestais, por entre os rosmaninhos, 
Abrindo os olhos d'oiro, p'los caminhos, 
Desta minh'alma ardente são a imagem. 

Embalo em mim um sonho vão, miragem: 
Que tu e eu, em beijos e carinhos, 
Eu a Charneca e tu o Sol, sozinhos, 
Fôssemos um pedaço de paisagem! 

E à noite, à hora doce da ansiedade 
Ouviria da boca do luar O 
De Profundis triste da saudade... 

E à tua espera, enquanto o mundo dorme, 
Ficaria, olhos quietos, a cismar... 
Esfinge olhando a planície enorme... 


Florbela Espanca
«Livro de Sóror Saudade»
1923

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