Seja bem-vindo. Hoje é

sábado, 28 de setembro de 2013

ANOITECER



A luz desmaia num fulgor d'aurora, 
Diz-nos adeus religiosamente... 
E eu, que não creio em nada, sou mais crente 
Do que em menina, um dia, o fui... outrora...

Não sei o que em mim ri, o que em mim chora 
Tenho bênçãos d'amor pra toda a gente! 
Como eu sou pequenina e tão dolente 
No amargo infinito desta hora! 

Horas tristes que são o meu rosário...
Ó minha cruz de tão pesado lenho!
Meu áspero e intérmino Calvário! 

E a esta hora tudo em mim revive: 
Saudades de saudades que não tenho... 
Sonhos que são os sonhos dos que eu tive... 


Florbela Espanca
«Livro de Sóror Saudade»
1923



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Muito grata por sua presença, muito nos honra.