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quarta-feira, 28 de maio de 2014

POBREZINHA


 
Nas nossas duas sinas tão contrárias 
Um pelo outro somos ignorados:
Sou filha de regiões imaginárias, 
Tu pisas mundos firmes já pisados.
 
Trago no olhar visões extraordinárias 
De coisas que abracei de olhos fechados... 
Em mim não trago nada, como os párias... 
Só tenho os astros, como os deserdados...
 
E das tuas riquezas e de ti 
Nada me deste e eu nada recebi, 
Nem o beijo que passa e que consola.
 
E o meu corpo, minh'alma e coração 
Tudo em risos poisei na tua mão!... 
...Ah, como é bom um pobre dar esmola!...
 
Florbela Espanca
In ‘Reliquiae’

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