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quarta-feira, 28 de maio de 2014

CHARNECA EM FLOR


 
Enche o meu peito, num encanto mago,
O frêmito das coisas dolorosas...
Sob as urzes queimadas nascem rosas...
Nos meus olhos as lágrimas apago...
 
Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!
 
E nesta febre ansiosa que me invade, 
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E, já não sou, Amor, Sóror Saudade...
 
Olhos a arder em êxtases de amor, 
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!
 
Florbela Espanca
In ‘Charneca Em Flor’ 1931
 

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